Transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental:
entre fios, tramas e o tempo da infância
24 de julho de 2025
Com 6 anos, as crianças serão recebidas no Ensino Fundamental. Aquela chamada “escola de verdade” afinal, acabou a brincadeira, chegou a hora de aprender.
É o que muitos pensam. Mas será mesmo? Será que crescer é tão imediato assim? Será que apenas mudar o nome da etapa basta para mudar o ritmo da infância?
O que se vive, muitas vezes, é um grande faz de conta de que as crianças já cresceram. A escola do Ensino Fundamental costuma operar no tempo do relógio, do cronograma, das disciplinas rígidas. E quem chega ali, ainda com o corpo e o coração pulsando infância, precisa correr para se ajustar.
Nesse esforço de adaptação, ou melhor de adequação, as emoções são silenciadas, as necessidades ignoradas, a curiosidade sufocada, afinal, agora é preciso sentar, calar e escutar.
Mas o desenvolvimento da criança é uma trama delicada, feita de linhas, laços e continuidades. Se essa passagem não for bem cuidada, pode virar uma ruptura: um ponto solto que compromete a rede da aprendizagem e desmembra as etapas do desenvolvimento. A transição precisa ser um prolongamento, não uma quebra. Um bordado contínuo entre o que se foi e o que o será.
Não podemos esquecer os corpos ainda estão em expansão. O brincar ainda é linguagem, o movimento ainda é necessidade. Aprender continua sendo processo e não um produto. Envolve vivência, observação, escuta, sistematização, tudo isso respeitando a singularidade de cada criança.
E nessa travessia, a família também está presente no processo de transição. Pais carregam, nos bolsos da memória, suas próprias histórias escolares, algumas leves, outras pesadas, mas todas cheias de expectativas sobre o que viverão agora com os filhos.
Mas o tempo passou, e com ele vieram novos saberes, novas escutas, novas compreensões.
Diante dos caminhos abertos pela neurociência e pela educação, não há como ensinar como antes. A infância de hoje exige mais presença, mais afeto, mais conexão, menos repetição.
Por isso, o desafio é pensar a criança como um todo: com sua história, sua cultura, seu corpo, suas emoções. É garantir que a escola se prepare para acolher, e não apenas exigir e moldar. Que o currículo dialogue com a infância, e não a silencie.
Que o Ensino Fundamental seja fundamento de um caminho, e não ruptura de um ciclo.
E nós, pais e educadores, estaremos ao lado, caminhando juntos, orientando com presença, oferecendo exemplos, e sobretudo, vivendo o agora. Nos encontros reais, tecidos no tempo da escuta, da troca e do afeto.
Janaina Leal
Inteligência Artificial e Educação
14 de julho de 2025
Entre algoritmos e afetos, de que lado está a educação?
Na última semana, participei de um congresso educacional.
Esses eventos são uma oportunidade valiosa para criar conexões, conhecer demandas e soluções do setor, além de colher informações que nos ajudam a projetar o futuro da educação.
Um dos assuntos mais abordados e discutidos foi a Inteligência Artificial.
A IA chegou para ficar e já transforma até as rotinas mais simples do nosso cotidiano.
Inclusive, parte deste texto que você está lendo contou com o apoio de uma IA. Ela atua como uma assistente, encurtando caminhos, mas sem substituir a essência do que queremos comunicar.
Durante o evento, ouvi futuristas, desenvolvedores e educadores compartilhando suas visões sobre o impacto dessas tecnologias.
Há quem diga que com a evolução da IA, educadores serão obsoletos... há quem tenha medo do que está por vir... parece que teremos um problema complexo pela frente.
Diante de tantas transformações, é fundamental compreender que o papel da escola também precisa evoluir. Apenas transmitir conteúdos já não faz mais sentido.
Nossa visão é que, diante de tantas novas ferramentas, as ciências humanas devem ocupar um lugar central no desenvolvimento das crianças. Relações, convivência, trocas e a forma como utilizamos o que sabemos serão o verdadeiro diferencial da educação do futuro.
E é por isso que saio desse evento fortalecida por estar em uma escola que prioriza a conexão e valoriza o tempo de qualidade com as crianças.
No evento, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel compartilhou seu estudo sobre o cérebro humano. Ela buscou responder se o ser humano é apenas o mais sortudo dos animais por ter desenvolvido a inteligência. Sua conclusão é que nossas características biológicas nos proporcionam mais tempo de vida, e com mais tempo livre, conseguimos desenvolver nossa inteligência. Para quem se interessar em compreender mais sobre o desenvolvimento humano, sugiro que busque mais informações sobre essa pesquisa.
E olha que contradição: vivemos em um sistema que tenta tirar das crianças justamente o que mais favorece o desenvolvimento da inteligência, o tempo livre.
Isso me fez lembrar de uma frase:
"Problemas modernos, soluções ancestrais."
Para muitas crianças, principalmente em grandes centros urbanos, a escola é o único lugar onde ocorre o encontro com seus pares. Só em conjunto elas podem trocar ideias, negociar, argumentar, se frustrar e aprender tudo aquilo que nenhuma IA oferece.
A escola deve ser um espaço para o desenvolvimento do pensamento complexo, da reflexão, da curiosidade e do questionamento. Trabalhar com projetos, resolver problemas reais e vivenciar histórias são práticas que ancoram esse modelo de educação que acreditamos: mais humana, mais consciente, mais significativa.
A Inteligência Artificial já está presente na escola para facilitar processos, registrar observações e apoiar o professor, mas o essencial continua sendo a presença de um adulto que se importa, que escuta e que guia.
E nós, adultos, o que estamos fazendo com o tempo que a tecnologia nos ajuda a economizar?
Que tipo de experiências estamos escolhendo viver com as crianças?
Seguimos juntos, aprendendo e transformando a educação, com coragem e compromisso.
Janaina Leal
Convivência escolar
14 de julho de 2025
Convivência é um desafio para todos nós! E é também uma das maiores oportunidades de crescimento.
Estar com outras pessoas exige o constante exercício de equilíbrio entre nossas necessidades individuais e as demandas do coletivo. E se isso já é difícil para nós, adultos, imagine para as crianças, que estão apenas começando a construir as ferramentas necessárias para conviver de forma respeitosa e colaborativa.
Na escola, é justamente nesse convívio diário que as crianças aprendem valores fundamentais para a vida em sociedade: o cuidado com o outro, a empatia, a solidariedade, a colaboração e a comunicação.
Onde há convivência, há conflitos e isso é natural. As crianças respondem aos conflitos com o corpo, com gestos e palavras, muitas vezes sem compreender muito bem o impacto de suas ações. Elas precisam de adultos atentos, educadores e famílias que as apoiem nesse aprendizado de viver em grupo.
Os conflitos fazem parte do processo de desenvolvimento. Quando acompanhados com escuta, paciência e orientação, tornam-se oportunidades valiosas de crescimento.
Educar é um processo contínuo. As crianças aprendem pela repetição, pela vivência e pela observação do que acontece ao seu redor. É natural que haja erros, testes de limites e desafios na convivência, isso faz parte do crescer.
Educar com respeito leva mais tempo, mas é o caminho mais efetivo e transformador. Castigos, punições e exclusões (práticas que muitos de nós vivenciamos na infância) até podem gerar efeitos imediatos, mas geralmente baseados no medo. Já a educação fundamentada no diálogo, na escuta e no vínculo promove aprendizados sólidos, sustentados por confiança e consciência.
Como pais e educadores, somos testemunhas da humanidade que nasce em nossas crianças enquanto crescem e dói vê-las sofrer. O relato de uma injustiça, a marca de uma dor, nos toca profundamente. Mas buscar culpados para suas dores nos impede de compreender o que realmente estão sentindo.
A escritora Lua Barros, de forma provocadora, nos lembra:
“Queremos filhos empáticos, desde que não seja para ele sofrer.
Queremos filhos resilientes, mas só quando ele for adulto, porque quando é criança não dá para sair da zona de conforto.
Queremos filhos corajosos, mas só se for para enfrentar os medos dos outros.
Queremos filhos autônomos, mas vamos esperar eles completarem 10 anos para conseguirem se virar.”
As crianças só aprendem a lidar com os desafios da convivência… convivendo. E nós, como famílias, também estamos em constante aprendizado sobre nosso papel na parentalidade.
O desenvolvimento é um processo. E ele merece ser vivido com presença, paciência e parceria.
Janaína Leal
Indo mais além (aprender fazendo)
14 de julho de 2025
“É experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, Ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.” Larrosa
Quantas vezes ouvimos:
“Lição dada é lição aprendida.”
Mas será mesmo?
Uma criança ouve sobre empatia.
Outra vive empatia quando é acolhida por um colega no recreio.
Uma copia a definição de solidariedade do quadro.
Outra sente o que é solidariedade quando compartilha seu lanche com quem esqueceu o próprio.
Uma resolve contas mecanicamente.
Outra descobre a matemática ao dividir brinquedos, organizar uma feira ou medir os ingredientes de uma receita.
A diferença está na alma do aprendizado: a experiência.
Aprender fazendo é descobrir com os próprios olhos.
É errar e tentar de novo.
É se envolver de verdade com o conhecimento — não como algo que se guarda na memória, mas como algo que transforma a maneira de ver o mundo.
Aqui, acreditamos que lição não se entrega pronta.
Ela se constrói no corpo, na curiosidade, no afeto, no movimento.
Porque só se aprende de verdade quando aquilo faz sentido.
Quando toca.
Quando marca.
Quando é vivido.
Ensinar com propósito é mais do que transmitir.
É criar caminhos para que cada criança seja autora da sua própria jornada de descoberta.
Afinal, a lição mais bonita é aquela que, um dia, ela vai ensinar a alguém — não porque decorou, mas porque viveu.
O texto fez sentido aí? Como as vivências das crianças impactam vocês?
Queremos saber como é perceber esse aprendizado no dia a dia de casa.... Contem pra nós!
Um abraço,
Daniela Falcão